paineis ambientais

Os painéis ambientais vão surgindo de forma gradativa a partir da indignação de Antonio Jackson, o Velho do Rio, diante do processo de exploração desenfreada do seu querido rio São Francisco. Constituem um misto de combinação entre objetos de memória, colecionados por ele, ao longo dos anos, e o processo criativo que busca se aproximar ao máximo do real, para denunciar os danos que as ações antrópicas irrefletidas têm causado em toda bacia hidrográfica do rio da Integração Nacional. Cada painel faz uma crítica a um impacto ambiental específico, ao todo são 18 painéis que fazem referência ao garimpo, assoreamento, degradação de nascentes, transposição, barragens, caça e pesca predatórias, uso de agrotóxicos, desertificação, resíduos sólidos, introdução de espécies exóticas, extinção de espécies nativas, queimadas, desmatamento, aquecimento global, esgotos, salinização,  ameaça das usinas nucleares e explotação de aquíferos.

Esgotos

Esse é um problema que, segundo Jackson, esbarra na ausência de políticas públicas, pois ao todo, no momento,  são 505 cidades na bacia hidrográfica do São Francisco, mas somente uma trata o seu esgoto. Nesse sentido, o painel faz uma crítica ao descaso do poder público e, consequentemente, ao impacto que os esgotos causam ao rio. Na opinião do ambientalista, a revitalização começaria resolvendo o problema de fácil domínio, já que depende, apenas, de vontade política. Essa é uma questão central.

Assoreamento

É o acúmulo de sedimentos no leito do rio, enlarguecendo suas águas e tornando-as mais rasas, com certeza, o mais grave e abrangente problema, resultado de fatores naturais, como cheias, ventos, chuvas e ações antrópicas, como controle de barragens, provocando o fluxo e o refluxo das águas, responsável por uma parte dos seus barrancos caídos. Cabe, também, uma parte desse dano ao rio, à exploração agrícola, com a utilização do processo de aragem de suas terras, sem nenhum critério de tipo de solo e de sua declividade. São muitas toneladas de terras que chegam ao leito do “Velho Chico”, por ano.

Caça e pesca predatórias

Coloca essas duas atividades como práticas criminosas, pois trata-se de um problema que afeta diretamente a biodiversidade da fauna da Bacia Hidrográfica do São Francisco. No painel Jackson utiliza o que seriam fragmentos de animais, como ossos, peles, algumas espécies empalhadas, fazendo um alerta quanto ao desaparecimento de muitas delas. Nesse sentido, faz uma crítica aos caçadores que não respeitam nem as espécies ameaçadas de extinção, assim como também aos pescadores que, muitas vezes, continuam a pescar mesmo em épocas proibidas, não respeitando o ciclo dos peixes.

Desmatamento

O painel que denuncia a prática do desmatamento traz os instrumentos utilizados nesse processo, como a motosserra, o machado, a foice e o serrote, além de troncos de árvores cortadas com folhas no chão e um líquido vermelho para nos lembrar que a natureza está sangrando. Jackson explica que, em alguns contextos, a derrubada de árvores é necessária, mas que é preciso ter consciência e compromisso com a natureza e com o nosso futuro. Explica ainda que o desmatamento se dá, sobretudo, dentro do contexto da prática agrícola, envolvendo aí o cultivo de monoculturas como o milho, a soja e a cana, além dos casos de desmatamentos criminosos, ou seja, em áreas proibidas pelos órgãos de preservação ambiental.

Barragens

Jackson aborda a problemática das barragens através de um painel com foco na produção de energia, pelas usinas hidroelétricas. Colocando o referido tema como algo polêmico, a partir do ponto de vista de que essas interferências humanas trazem benefícios e malefícios. O exemplo maior dessa dualidade é que essas barragens foram construídas para produzirem energia, algo que modificou profundamente nossa forma de viver, um serviço indispensável. Em alguns casos, essas barragens ainda garantem a sobrevivência do rio em períodos de seca, como a crise hídrica que vivenciamos em 2013. Utiliza como exemplo a barragem de Sobradinho que foi feita para controlar o rio e foi fundamental para garantir sua vazão no período prolongado de estiagem, pois garantiu uma poupança de água. No que diz respeito aos impactos negativos, o criador do museu destaca o controle da vazão e, consequentemente, o fim das cheias que levou ao declínio da produção de arroz, por exemplo, historicamente produzido nas áreas que permaneciam alagadas quando as águas do Velho Chico recuavam anualmente; mas o maior impacto seria na reprodução dos peixes, pois as barragens dificultam/impedem a piracema. Dessa forma, o painel lança a crítica de que as barragens não são as únicas donas do rio, mas deixa aberto para o público problematizar o que há de positivo e o que há de negativo nessa intervenção antrópica. Logo, segundo Jackson, o painel foi feito com a intenção de representar mais um problema do rio, na perspectiva de que as barragens interferem localmente, mas também proporcionam benefícios, sendo o maior deles a produção de energia, cuja chegada foi comemorada com as maiores festas já vistas nas margens do São Francisco

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Salinização

Trata-se do acumulo excessivo de sais minerais no solo, em parte provenientes de projetos de irrigação, sem nenhuma preocupação técnica, impacto ambiental que pode provocar a infertilidade do solo. Para Jackson muitos projetos de irrigação mal pensados são responsáveis pela salinização em áreas da Bacia Hidrográfica do São Francisco. Nesse sentido, além de ser um problema para a agricultura enquanto importante atividade econômica é, também, um problema para o rio, pois trata-se de um processo que pode levar à desertificação. No painel Jackson representa o referido impacto ambiental através da atividade de irrigação por meio de encanações e o solo branco simbolizando um alto teor de sal, de onde não brota mais vida. 

Introdução de espécies exóticas

O Velho do Rio explica que a introdução de espécies exóticas é um problema sério, utiliza como exemplo o tucunaré (nativo da Amazônia) trazido para o São Francisco pelo DNOCS, um predador que passou a atacar as outras espécies. Também mencionou a introdução do tambaqui e da tilápia, sendo que este último tomou conta do rio, embora ambos não tenham causado um impacto direto no que concerne a biodiversidade. Jackson ainda faz alusão às espécies exóticas da flora, como eucalipto, nim e algaroba que foram introduzidas ao longo da Bacia Hidrográfica do Velho Chico. No painel essas espécies da fauna e da flora se encontram representadas por um pequeno tucunaré empalhado, ovos de avestruz, pequenos troncos e uma mala que simboliza a viagem realizada por essas espécies, até chegar no nosso “Chico”.

Queimadas

O painel retrata de forma muito realista, através de troncos que passaram pelo crivo do fogo e de luzes acopladas a eles e que simulam o efeito de brasas acesas, o impacto das queimadas, em sua maioria, causadas pelo homem, sobretudo no que diz respeito ao que Jackson coloca como sendo a cultura do desmatamento e da queima para então proceder com a prática da agricultura, um fenômeno que acontece ao longo de toda a bacia, perdurando a crença de que queimar a vegetação traz mais nutrientes ao solo, através das cinzas. Menciona ainda as queimadas naturais como as que ocorrem anualmente na Serra da Canastra e até mesmo a produção de carvão, em algumas áreas.

Garimpo

O painel que aborda os impactos do garimpo no Rio São Francisco é representado pela água jorrando em uma bateia (instrumento utilizado no processo de mineração de metais preciosos) que veio de Jacobina/BA e por uma disposição de cascalhos que resultam desse tipo de atividade econômica. Os impactos da mineração, segundo Jackson, giram em torno da utilização do mercúrio, da desfiguração do leito do rio através da escavação e até o desvio do mesmo em áreas de nascentes.

Agrotóxicos

Um painel construído para fazer um alerta ao uso desenfreado de defensivos agrícolas, que acabam por contaminar o solo, as águas subterrâneas e o rio, causando a morte de peixes e agredindo o próprio homem. Atribui o uso intenso dos agrotóxicos à monocultura da cana, da soja, do milho, dentre outras, que chegaram às margens do São Francisco. O painel ainda destaca o uso de aviões que sobrevoam as plantações e espalham veneno, trazendo a morte.

Degradação de nascentes

Jackson descreve as nascentes como sendo lugares sagrados, pois sem elas não existem rios. No entanto, inúmeras atividades econômicas que promovem o desmatamento estão devastando as mesmas. O painel que denuncia o processo de degradação das nascentes é representado pela água brotando da terra de forma delicada, em uma área marcada pelo desmatamento e pela presença de lixo, configurando-se como um ambiente seco. Para Jackson, a maioria das pessoas não tem noção do que as nascentes de fato representam para o São Francisco. São 168 afluentes, cujas nascentes estão ameaçadas.

Extinção de espécies nativas

O ambientalista nos explica, através do referido painel, quais os processos que acarretaram a extinção de algumas espécies nativas, a exemplo de peixes como o surubim, pacomã e dourado. Os processos vão desde a introdução de algumas espécies exóticas predadoras, passando pela pesca excessiva, a explotação, até a dificuldade dos peixes realizarem a piracema. No que diz respeito à flora, Jackson menciona o processo intenso de desmatamento que atinge árvores raras como cedros e jaqueiras, lançando uma crítica à destruição da mata ciliar ao longo da Bacia do São Francisco. Explica-nos também como a caça predatória e como algumas atividades econômicas, a exemplo da pecuária, tem levado ao risco de extinção de algumas espécies, como é o caso da onça pintada, uma espécie extremamente perseguida por fazendeiros e cuja maior concentração se dava na região onde se encontra o lago de Sobradinho.

Usinas nucleares

Apesar de não termos Usinas Nucleares ao longo da Bacia Hidrográfica do São Francisco, existem inúmeras discussões em torno da implantação das mesmas. De acordo com o Plano Nacional de Energia de 2050, algumas localidades estão sendo estudadas para abrigar usinas, como é o caso de Itacuruba em Pernambuco. No entanto, as comunidades ribeirinhas, quilombolas, indígenas, ambientalistas e membros da sociedade civil organizada se recusam a aceitar. Jackson, através do seu painel que aborda o risco iminente de construção de Usinas Nucleares, faz críticas ao perigo desse tipo de produção de energia para o homem e o meio ambiente, por representarem um risco real e constante de morte, sem falar no impacto do lixo nuclear.

Desertificação

Trata-se de um fenômeno onde ocorre um intenso processo de degradação do solo, ou seja, a perda de nutrientes, o seu empobrecimento, impossibilitando-o de produzir, tal qual um deserto. Ocorre com maior incidência em regiões de clima árido, semiárido e subúmido. As ações antrópicas a exemplo do desmatamento, das queimadas e de práticas agrícolas inadequadas podem causar processos de desertificação. Segundo Jackson, temos fenômenos de desertificação em Cabrobó, próximo da retirada de água da transposição. O painel da desertificação traz uma escultura que representa um homem carregando latas de água em uma área totalmente seca e onde não há vida, onde é impossível plantar e colher, o homem que pena pelo impacto causado através de sua própria ação.

Aquecimento global

Trata-se de uma teoria que defende o aumento gradativo das temperaturas médias do planeta, em prática, acelerado em decorrência das inúmeras atividades econômicas. Os efeitos seriam inúmeros, relacionados às mudanças climáticas. Jackson a representa no painel ambiental colocando a ação antrópica como a responsável por esse processo, com foco na queima do petróleo.

Resíduos sólidos

O painel é constituído por uma grande quantidade de lixo e pela presença marcante da principal ave que sobrevoa os lixões, o Urubu. Segundo Jackson, nos últimos anos a questão dos resíduos sólidos vem melhorando em termos de legislação, mas ainda constitui um problema pela grande quantidade de lixo que não tem destino, chamando ainda a atenção para o problema de drenagem (gerenciamento das águas da chuva) nas cidades que faz com que tudo seja despejado no rio. O criador do museu e ambientalista enfatiza que essa é uma questão que exige responsabilidade de todos, pois embora tenham existido avanços, a cultura de muitos ribeirinhos é a de descartar lixo no rio.

Transposição

A transposição do Rio São Francisco é a maior obra hídrica já realizada no Brasil. Teve início em 2007 no governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gerida pelo Ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. Trata-se de um projeto de deslocamento das águas do São Francisco para estados como Ceará e Rio Grande do Norte, sob a alegação de combater os efeitos da seca em regiões áridas, um projeto que provocou uma enorme discussão a nível nacional e mobilizou inúmeros protestos. O painel de Jackson retrata sua indignação com a política brasileira e com a obra hídrica que, segundo ele, não era prioridade, uma vez que existem pessoas sofrendo com a escassez de água na própria bacia hidrográfica do Velho Chico e até mesmo a 1 km de distância do rio, sugerindo então que primeiro a política de enfrentamento aos efeitos da seca fosse gerida na própria bacia, levando à compreensão de que o foco da transposição era, na verdade, levar água para o agronegócio se desenvolver, sobretudo na economia do Ceará. Dessa forma, trata-se de uma obra que não mata a sede de 12 milhões de pessoas que vivem fora da bacia, conforme informaram. Em nível de dados, o criador do Museu menciona um estudo realizado pela Agência Nacional de Águas (ANA) mostrando soluções para o problema do nordeste, inclusive colocando como meta a construção de um milhão de cisternas, poços e barragens. Na opinião do Velho do Rio, do ponto de vista ambiental, a transposição não causa impacto desde que o rio esteja bem, mas não é uma obra prioritária, a prioridade seria matar a sede e levar desenvolvimento primeiro para os 18 milhões de pessoas que vivem na Bacia Hidrográfica do São Francisco.

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EXPLOTAÇÃO DE AQUÍFEROS

A intenção do Velho do Rio, é denunciar a exploração dos nossos aquíferos, principalmente pelo setor agrícola, sem nenhum estudo de reservas, colocando em risco a perenidade dessas grandes massas hídricas, responsáveis pela vida das nossas nascentes.

(EM CONSTRUÇÃO)

“Como é um Museu, eu jogo o problema e cada um que faça a sua interpretação. Eu boto o assunto e a minha interpretação sobre ele, mas quero ouvir a do público, não é obrigado a concordar. A intenção do museu é provocar!”
Antonio Jackson
Fundador